Monday, May 15, 2006

My Father's gun


O que falar sobre um filme de Cameron Crowe? E ainda mais um filme com tantas características peculiares de seu cineasta, que remete a quase todos os temas tratados em suas películas anteriores? Falar da fotografia sóbria que ganha contornos singulares pela maneira como explora as impressionantemente familiares paisagens do meio-oeste americano seria chavão demais. Dizer que o Drew Bailor de olhar vazio criado por Orlando Bloom nada mais é do que o retrato do próprio Cameron em um dos mais difíceis períodos de sua vida seria correto, porém incompleto. Explorar o relacionamento quase que surreal e perfeito demais para ser verdade (como seria bom...) de Drew com Claire Colburn, uma aeromoça que é o elo perdido entra as “Blondies California Dreamin’ Girls” e a doçura e esperteza brejeira das “Mid-West Girls”, bem, até que seria legal, mas a verdadeira relação que carrega o filme da abertura dos créditos com música alternativa até o último frame é a do filho com o pai.
Drew vai cometer o suicídio mais hilário da história quando é interrompido pela notícia de que o pai morreu no meio de uma visita aos parentes no velho Kentucky, e como primogênito, está encarregado de tomar conta do funeral. Aliás, Drew vai se matar após causar um rombo bilionário (arredondando) para sua empresa, mas nota-se que por dentro o que o incomodava era desapontar o seu chefe, que nos anos que dedicou a empresa fazia as vezes de figura paterna.
Dedicar oito anos para alguma coisa, fracassar retumbantemente, desapontar uma pessoa pela qual tu tens respeito e admiração, e receber a notícia de que a relação há muito perdida com o teu pai ficará realmente perdida para sempre. Alguns chamam isso de um dia ruim. Para Drew, foi o recomeço de tudo.
Se existisse uma escala para pessoas espertas no meio artístico, seria a Escala Crowe. A maneira como ele dispõe os roteiros para que eles escondam a real intenção de seu filme é algo realmente muito bala. Para o espectador desavisado o relacionamento de Drew com Claire é a verdadeira redenção do personagem-persona. Porém para quem conhece a obra e o autor, sabe que a verdadeira conquista pessoal de Drew “Crowe” é a aproximação, ainda que aparentemente tardia, com seu velho pai. Desde os últimos contatos que a memória consegue alcançar, como as brincadeiras da infância, até a falta de jeito com o pai morto, e culminando no enterro preparado como uma viagem ao fundo do sentimento mais estranho, mais forte e tantas vezes tão difícil de demonstrar por pai e filho. E a cena do pó sendo lentamente levado pelo vento no carro é para destruir quem entende o que se passa com Drew.
E eu nem falei da trilha! Tom Petty, Ryan Adams, My Morning Jacket...se houver um outro dia eu falo.

2 Comments:

Blogger Greyce Vargas said...

Conforme combinado (ai que quadrado isso!)...
Caro Slip (deixando mais quadrado ainda), a película não rodou, foi o dvd, mas começou mostrando um cara inusitado com um próposito mais inusitado ainda. A garota é surreal, o que traz uma mistura de cômico, realidade, subjetividade e o irreal mais irreal impossível. Então eles caminham para o cômico e logo passam para o filófico.

Desliguei durante a festa de funeral. Não deu para continuar a assistir uma mistura que não não me pareceu coerente, não que fosse esse seu propósito, mas a filosofia cômica/funebre/romanceada me pareceu por demais caro. Pelo menos o aluguel deste me rendeu uma outra locação gratuita!

Só fui sincera...

1:45 PM  
Blogger Greyce Vargas said...

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1:45 PM  

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