Friday, May 19, 2006

Ás de Copas

Monólogos do Inconsciente – Capítulo I

- Sei lá, 15, 16 anos que a gente se conhece. Acho que três caras que se conhecem e convivem tanto tempo juntos, de uma maneira ou de outra podem ser considerados amigos. Lembra daquela vez no colégio que a gente ia ser expulso e a gente contou a mesma mentira, sem saber o que o outro ia dizer?
Thomas sempre falou demais, e falava coisas interessantes em momentos nada oportunos. Ou falar de amizade e irmandade quando se está devendo 20 mil e uns quebrados em dívidas de jogo e outras coisas mais para um traficante-assassino, com uma soma de dinheiro de R$ 276,00 somando o que os três tem, e o pagamento é pra HOJE, é oportuno?
- Velho, sinceramente, eu acho que as coisas boas e ruins que aconteceram nas nossas vidas foram por causa da nossa amizade. E eu não mudaria nem uma linha, nada, mesmo se a gente for morrer hoje. Concorda George?
Thomas e Ricardo riem com o canto da boca. Sabem que “George” (na verdade meu nome é Luciano) não vai responder nada. Pois eu não sou o que pode se chamar de cara falante. Não falo por motivos que não vem ao caso, mas pensando agora na metáfora e no clichê que nós três nos transformamos, a minha mudez se encaixa perfeitamente:
Thomas é o líder, o que tem as idéias, o cara que não para de falar e que das duas uma, ou põem tudo a perder ou dá o golpe do século. Naturalmente tomou o posto de cabeça do trio, sem esforços ou imposições. E o principal, além de inteligente Thomas era um grande canalha com um senso de humor extremamente estranho. Seu apelido: John.
Ricardo era o contraponto a Thomas, mas apenas no campo das idéias e opiniões, porque os dois sempre foram como unha e carne, desde sempre. E Ricardo respondia pela parte lógica, prática do nosso negócio. Não dávamos um golpe ou cogitávamos uma idéia se Ricardo dizia que era impossível. Nós o chamávamos de Paul.

E eu não falo. Sou o cara da execução, o que faz a parte suja do nosso negócio.

- Mas é sério. Eu acho que se nós não fossemos golpistas, assaltantes, jogadores canalhas “parias da sociedade”, nós seríamos alguma coisa juntos, entende? Sei lá, funcionários da mesma empresa, algo do tipo. Não é destino, acho que é alguma coisa inconsciente, que não tem muito a ver com o que a gente pensa, mas sim com o que a gente é na real.
- Não exagera Thomas. Que mania desgraçada que tu tem de exagerar as coisas! O negócio agora é o seguinte: COMO sair dessa situação? Ou vocês querem esperar os homens do Pé aqui nesse lugar, falando sobre como seria legal se pudéssemos continuar vivos?
- Não viaja velho. A gente tá fudido, não tem mais jeito. É muita grana pra muito pouco tempo.
- Pouco tempo é o cacete. Seguinte: Thomas vai falar com o teu primo...Ah velho, nem faz essa cara, ele nos deve metade da grana que a gente precisa! Faz ele pegar, não me interessa como! Eu vou falar com a Bianca, vai que ela tenha alguma coisa escondida ainda. Na volta vou tentar pelo menos uma mão no Bar do Gordo. George, tu sabe o que tu tem que fazer né?
Eu só aceno com a cabeça que sim. Thomas tá atordoado demais pra questionar o que o Ricardo tava dizendo, embora os três saibam que ninguém concorda com o que a gente ta fazendo. Mas agora virou questão de sobrevivência, e pela primeira vez, “Os Perdidos” vão atuar sozinhos e sem saber o que o outro vai realmente fazer para conseguir a grana. E o apelido “Pé” vai ser justificado.
Fim do Capítulo I
15/01/2005

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Tchê.. que bagulho afude!!! quando eu comecei a ler achei que tu tava falando da gente!! O Gordo, tu e eu!!
sei lá explicar!!

continua essa historia, peloamordedeus!!

8:03 PM  
Blogger Anna Blume said...

Gangsterianismo.
Se tivesse sangue, seria "gangsterianismo tarantiano".

6:42 AM  

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