Monday, October 01, 2007

(Des)Convenções*

- Tu já pensou em deixar de ser melancólico em relação a tudo que existe na tua vida e tentar ser feliz um pouco que seja?
Já tinha parado pra pensar no porque não era feliz, mas nunca nos termos que eram expostos naquele momento. Na verdade sentia um desespero pelo fato de estar vivo, de não saber o que fazer direito com as escolhas que a cada dia explodiam em sua cabeça. Mas sabia que com ela sentia-se pleno, mesmo que não soubesse muito bem de onde aquela calma vinha. Mas só disse:
- Nunca pensei nisso.
- RÁ! Então te fode!
Ela nunca havia sentido o que as pessoas convencionavam chamar de felicidade. Achava aquele sentimento tão artificial quanto os feriados que vinham com a necessidade implícita de “presentear quem se ama”. E não sentia raiva ou despeito, só uma resignação muda, que com o passar dos anos transformou-se numa espécie de motivação para focar em todos os outros aspectos da sua vida, menos em encontrar alguém. Mas agora ela era feliz, completamente, com ele. E o medo consumia seus momentos de silêncio, de solidão.
- Sabe o que é mais estranho? Quando eu tava com o Guilherme, a gente sempre...
Não conseguia ouvir mais nada. Por mais blasé que ele fosse normalmente, quando ela falava de algum ex, de algum caso, de algum amigo que fosse, um ódio genuíno tomava conta de seus pensamentos, uma vontade de dar um soco na boca de alguém até quebrar a própria mão e/ou os dentes do indivíduo (que em seus pensamentos variavam entre a figura do cara que ela estava falando e às vezes dela própria, pensamento este que o deixava assustado e fazia recobrar a audição).
-... Mas por melhor que fosse não era como é contigo, nem perto de fazer qualquer tipo de comparação, e aí tu fica desse jeito aí!
- Que jeito guria?
- Com essa cara de quem nunca tá contente com nada, de quem tá procurando alguma coisa não sabe onde, nem o que, e aí vem me dizer que “já me achou” e aquele papinho todo...
- Tu acha que tudo que eu te digo é “papinho” então, é isso?
- Se tu continuar assim eu vou achar mesmo!
- Então deixa eu te mostrar uma coisinha que eu fiz...
Ela fica em silêncio, com a indignação mais doída no semblante, o que começa a fazer o coração dele pedir passagem para os órgãos que ficam no caminho até a garganta, para poder respirar um pouco de ar e não sufocar. Mexe na mochila apressado, como se catasse um pedaço de verdade para provar o que sentia mais não conseguia dizer ou demonstrar.
- Abre a caixa garota...
- O que é? – ela diz com o ar de quem duvida, mas não consegue esconder a expectativa.
- Tu vai entender quando abrir.
Ela abre. Começa a rir, chorar, soluçar, socar, beijar, se contorcer, e finalmente se acalma, sentindo cada movimentação do tempo, e como os encaixes do mundo existiam de verdade. E ele finalmente entendeu que havia alguém com quem podia se fazer entender.

2 Comments:

Blogger Mau Haas said...

mas bah che! o que tinha dentro da caixa?
eu acho que era um 38tão! Ela ia dar nos córno dele! Ou ele nos dela... ou vice-versa... heheheh...

6:05 AM  
Blogger Bááh said...

qq tinha na caixaa? o.0 um anel de noivado? huahuahua

12:12 PM  

Post a Comment

<< Home