Wednesday, May 24, 2006

A Vila


Qual é a fonte de nossos medos? O sentimento de temor já estava instalado em nossas mentes e de repente algo o acende, ou “sentir medo” é uma reação automática a um estímulo específico?
Isso pouco importa quando o assunto é cinema. Ninguém se pergunta por que leva um cagaço quando o assassino salta por trás da porta, com a faca afiada apontada pro pescoço da moçinha. Mas dependendo da habilidade do diretor, todo mundo dá um salto da cadeira.
A Vila vai muito além do susto. Aliás, susto mesmo há em três, quatro cenas, e olhe lá. O filme abre mão deste artifício simplesmente porque se propõe a traçar um plano muito mais profundo do que assustar. A “alegoria” que o filme sugere gira quase que cem por cento nas várias formas de medo que a sociedade enfrenta há séculos. Mesmo que isso seja feito através de metáforas que muitas vezes passam despercebidas do grande público, que espera “o cara apavorante perseguindo adolescentes indefesos numa noite de lua cheia”.
A primeira cena é de um funeral onde um homem se debruça por cima de um caixão branco e pequeno o suficiente para ser de uma criança, e se pergunta por que aquilo está acontecendo, de uma maneira um tanto mais lacônica do que desesperada. Tratando-se de M. Night Shyamalan a primeira cena diz muito sobre a trama do filme, mas isso tu só vais descobrir lá na última meia hora. Nos próximos dias o diretor indiano será alvo de reflexão aqui no Coffee.
A película vai se desenrolando e o roteiro e a maneira como ele é desenvolvido é tão hábil, que além de conseguir passar a sensação de desconforto e de que “algo não encaixa”, o espectador sente o medo de estar sendo enganado! E isso para um filme com a temática proposta por Shyamalan é um trunfo descomunal.
Pontuando todo o longa existem questionamentos específicos sobre como agem as pessoas quando confrontam situações que imputam medo sobre elas: amar com todas as forças uma pessoa, mas guardar o sentimento em função do medo da rejeição; não arriscar a liberdade por medo do desconhecido (floresta, “aqueles de quem não falamos...”); proteger aqueles que mais amamos de maneira possessiva, por causa do medo de perde-los de maneira abrupta e estúpida (ou o medo de que isso se repita). Assim como questões mais sutis, que entregariam muito da trama.
No balanço final, A Vila é muito mais do que um simples filme. As pessoas deveriam analisá-lo sobre tantos ângulos, tantas teorias e correntes de pensamento que fica difícil entender o bombardeiro que o longa sofreu por parte massiva da crítica e do público. Talvez seja pelo fato de ver seus temores sendo analisados e expostos na tela.

"A única coisa de que devemos ter medo é do próprio medo" - Franklin Roosevelt

1 Comments:

Blogger Anna Blume said...

Nada haver especificamente com o assunto, mas acredita que eu acabei, agorinha agorinha, de assistir em um documentário o F.D. Roosevelt falando essa frase aí???

E o filme eu não assisti, mas quase todo mundo me falou mal.

E os medos...eu não sei. Mas são dotados muitas vezes de uma extrema irracionalidade, que talvez se explique com alguma teoria bizarra...

8:11 AM  

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