Wednesday, October 11, 2006

Adeus

Os minutos não têm muita importância quando a morte está à espreita. Nem as horas, os dias, as semanas. Breno sabe que o fim está tão próximo que pode sentir um sorriso para ele. Um daqueles sorrisos enigmáticos e reconfortantes, de causar calafrios na espinha de quem teme a linha final. Porém o único temor de Breno sempre foi não poder mais ver uma pessoa, nunca mais ouvir a sua voz, e ironicamente, nunca mais ver seu sorriso enigmático e reconfortante, muito parecido com o de sua nova amiga. Precisava falar tantas coisas para ela que só de pensar ficava zonzo e nauseado.
Joana. Joana. Joana.
A palavra, o rosto e as lembranças da menina martelavam na mente de Breno, assim como a idéia fixa de que iria morrer muito em breve. Não sabia (ou não queria lembrar mais) quando se deu conta de que morreria logo, já que estava aparentemente saudável e sua vida era um tanto quanto normal, sem riscos. Mas também não fazia mais a mínima questão de saber. Saber as coisas não implica conhece-las, tampouco as entender. Saber e acreditar são conceitos estreitos, e nos últimos dias começaram a fazer tanto sentido para Breno que chegava a doer em seu estômago cada vez que desviava um pensamento para este assunto.

- Boa-tarde-Joana-quem-gostaria?
- Oi Ana...
- Ah, oi Breno... Tudo bem, aconteceu alguma coisa?
- Não, por enquanto não. Por quê?
- Não sei, quem me ligou as 4 da tarde de uma quarta feira no meu trabalho foi tu, e não eu!
- Ah, esqueci que precisa ter um motivo especial agora pra eu poder falar contigo...
- Não é isso... É que...
- Tá Ana, eu entendo. Não pensa que eu vou tentar alguma coisa, ou vou te convidar pra sair e tu vai precisar inventar outra desculpa pra recusar... Eu já entendi tudo que tu me disse, e concordo com a maioria! Aliás, sempre achei muito difícil discordar de ti...
- Breno, se tu precisa dizer algo, diz logo.
- São só duas coisas que eu tenho pra te dizer. Queria saber como está o teu irmão.
- Ta ótimo. Perguntou quando tu vai passar lá em casa pra brincar com ele.
- Pois é, tenho certeza de que não vou conseguir ir... Só queria que tu dissesse pra ele que... Diz que ele vai ser um cara muito legal, diz que eu tenho certeza disso!
- Breno, o que houve, me diz logo!
- Nada Ana, só diz isso pra ele, por favor. E a outra coisa que eu queria... Que eu precisava te dizer, é que eu fui feliz naquele dia. Quer dizer, eu fui feliz contigo praticamente todo o tempo, mas aquele dia vai ficar pra sempre como o melhor dia da minha vida. Eu queria te agradecer por isso. Só isso...
- Eu não sei... Eu...
- Aninha, não diz nada... A gente se vê, tchau Ana.
- Tchau Breno.

Breno desliga o telefone e sorri. Por quanto tempo não sabe, o tempo já não existe. E a única certeza que preenche qualquer pensamento que habite sua mente é que havia sido feliz naquele dia.
"...ev'rything dies, baby, that's a fact
But maybe ev'rything that dies someday comes back
Put your makeup on,
fix your hair up pretty
And meet me tonight in Atlantic City"
Bruce Springsteen

3 Comments:

Anonymous Anonymous said...

isso me parece um bom argumento também...
e muito mais fácil de gravar... ahahahahahahaah
abraço

11:44 AM  
Anonymous Anonymous said...

"Saber as coisas não implica conhece-las, tampouco as entender"... Gostei!! Da história e principalmente da frase... o_O
Só o título é que não me agradou muito... hehehe, me deixa enjoada!!!

4:43 PM  
Blogger Greyce Vargas said...

Tocante... produzindo como um louco, pensando como poucos!!!!

11:00 AM  

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