Wednesday, January 16, 2008

Tem que ir até lá pra voltar


Nem tudo que reluz é pulserinha colorida de badalada, assim como nem tudo que vem da França é um pé no saco pseudofilosófico ou arrogantemente mal cheiroso. Franck Ribéry (o Carlitos Tevez de La Résistance), Eva Green (o contra-ataque francês a Kate Winslet) e um filme que pouca gente ouviu falar por enquanto não me deixam mentir.
La Faute à Fidel parece mais uma daquelas chatices européias de gente metida a intelectual. E talvez até seja, mas é um filme inteligente sem ser babaca, nem fica a todo minuto dizendo nas entrelinhas como quem escreveu aquilo é mais esperto do que quem está olhando - como Os Sonhadores faz a cada 3 segundos. Na real um texto gigantesco falando sobre o filme chega depois do carnaval, mas ele merece a propaganda antecipada só pela esperteza do ponto de vista da história: No começo dos anos 70, uma família de classe média alta francesa sofre uma reviravolta política (deflagrada por um tio comunista em outro continente) e passa a encarnar o esquerdismo socialista europeu e latino com todos seus clichês, ideais igualitários e regras não estabelecidas. Até aí tudo bem, um bilhão de vezes esse período da história política foi revivido pelo cinema, até fazer com que os anos 60 "políticos" ficassem tão pentelhos e sacais quanto os anos 60 "hippies" (em 2008 teremos um especial sobre o episódio de South Park no qual Cartman lança uma caça ás bruxas hippies. Sem palavras de tão espetacular que é).
Mas a diretora Julie “Filha do Costa” Gravas, baseada no livro italiano a partir do qual o filme foi concebido, consegue tratar o assunto de maneira diferente, em função da abordagem. O espectador compreende a conjuntura (um dia eu tentei escrever sobre política, perdão pelo cacoete e pela palavra) do período através da percepção de uma criança de 9 anos, uma menina que estudava em escola católica e tradicional, morava numa bela casa com jardim, tinha a companhia de uma governanta que fugiu de Cuba por não concordar com o comunismo, e estava plenamente feliz com sua família modelo. Aí de repente as barbas crescem, os amigos dos pais mudam, os empregos também, o padrão de vida, o jardim e a casa são trocados por um apartamento “subversivo” e a menina não entendo o turbilhão que varre sua vida até então perfeita pra debaixo do tapete. E quer respostas, e enfrenta os pais!
Enfim, cheiro de Nove Rainhas no ar: produção impecável, atores humanos de verdade, história criativa e plausível... Não espero algo melhor que Nove Rainhas, já que o filme argentino figura no Top 3 de Produções Não Americanas de todos os tempos, mas potencial para entrar num Top 5 Filmes Europeus La Faute à Fidel tem.



(Atenção: Trocadilho em negrito, favor ignorar) Finalmente adquiri Final Straw dos irlandeses radicados na Escócia (ou escoceses radicados na Irlanda) do Snow Patrol. O disco de 2004 é um daqueles momentos iluminados pelos quais algumas bandas passam poucas vezes na carreira. Agora que os caras tão até sendo remixados nas rádios brasileiras, todo mundo olha com nojo pros malucos. Não que eles sejam geniais, longe disso, os dois discos anteriores a Final Straw, independentes e lançados por pequeno selo escocês, eram médios, com alguns momentos inspirados, e o disco novo é totalmente mais ou menos. Aliás, isso ajuda a criar a “mística” de Final Straw. Ali, e muito provavelmente apenas naquele disco, o Snow Patrol foi REALMENTE bala!
Inclusive, tenho uma tese sobre o fascínio que as Bandas Médias exercem nos fãs de música. É aquela banda que tu sabe que não é genial, que os músicos não são talentosos, que os discos são irregulares, mas mesmo assim tu adora! Defendo a idéia que como a maioria dos fãs são músicos frustrados, tu acaba torcendo por aqueles caras que nunca serão rock stars, e na verdade poderiam ser os amigos com os quais tu “tocava” quando tinha 12, 13 anos. Difícil entender a idéia em apenas um parágrafo, é um pensamento muito complexo que envolve décadas de rock, ídolos obscuros, discos renegados à guetos culturais, enfim.
Mas o Snow Patrol é uma das bandas médias mais legais da década. A número 1 com certeza é o The Vines, com o quase-gênio / quase-retardado Craig Nichols, meu quase-ídolo da guitarra quase-bem tocada. Mas esse é um caso a parte.
Ah, um disco que tem, em seqüência, Spitting Games, Chocolate e Run é muito acima da média, ponto final.

"Um ano autista pra todo mundo!" - Craig

*Thanks Gizmo Girl, you’re the happiness in human form.

4 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Filmes que mostram um período histórico aos olhos de uma criança sempre são interessantes, pelo menos os que eu vi (diga-se de passagem, O Labirinto do Fauno e a Revolução Espanhola). Já Snow Patrol tomou um lugar especial na minha playlist,depois que conheci o grupo pelo tema "Signal Fire" do filme do Homem-Aranha. Som bacana mesmo!

10:59 AM  
Anonymous Anonymous said...

Muito bom o texto do filme. Dá vontade de ver mesmo, e, para filhos de pais que sempre preferiram a esquerda, por assim dizer, rola até uma identificação. O CD não ouvi todo ainda, mas gosto muito de Chocolate (memórias... heheheheh)...
And, thanks Gizmo Boy, for everything. I love you.

6:00 AM  
Anonymous Anonymous said...

Lá vou eu de novo!
Vou começar comentando sobre o Snow Patrol e outras bandas meia-boca q tb fazem minha cabeça!Concordo c/ vc qdo diz q essas bandas mais "simples" agradam principalmente os músicos frustrados!o meu conhecimento musical se resume a comprar os cds de bandas q me agradam, ler o encarte e ouvir o som várias vezes ateh conseguir decifrar cada instrumento separadamente. e as vezes nem isso eu consigo fazer!enfim, nunca me vi como uma rockstar,então prefiro músicas q estejão no meu nivel: nada tão loser e nem tão fodão!isso começou com strokes a 7 anos e continua hj, qdo escuto bandas como a dos irmãos argentinos Inmigrantes. Já ouviu? Deve ouvir!
Quanto ao cinema europeu, tirando a espanha do Almodovar, que eu simplesmente idolatro, o que me agrada mesmo é o cinema alemão. é simples, tem profundidade, e não me faz sentir burra, diferente da aioria dos filmes franceses, como vc bem disse!são uma tentativa tão forte de parecer complexo que não me convencem!
mas esse me deixou curiosa!tlavez eu o veja!
tomara q de certo agora!

7:52 AM  
Blogger Mau Haas said...

Tchê, Rojão vai destruir com os moranguinhos!!!!!

Outra... esse filme, por increível que pareça, eu já tinha ouvisto falar.... tô loco pra ver.... (ps.: tu já viu? como? onde?)

a banda, não conheço... mas to ligado na parada de gostar de bandas médias... ou ruins.... eu gosto de Rosa Tatooada, por exemplo... hahahahah

Falo índio véio!!!! Vô lê o otro post

6:03 AM  

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