Thursday, March 06, 2008

Guiñazu e o Futebol Total

El Cholo: Guina dá aula de volantismo para Zanetti em Dubai.
Em janeiro o Colorado gaúcho derrubou a poderosa Internazionale de Milão, em Dubai, por 2x1. Dois meses depois o Arsenal derrota o atual campeão do mundo Fifa e da Champions League, Milan, por 0x2 em pleno San Siro, eliminando o time de Kaká, Pirlo, Pato e cia. Culminando essas duas apresentações, ontem a morte do futebol como o conhecemos aconteceu: o Roma eliminou a constelação mundial Real Madrid por 1x2 num Santiago Bernabéu superlotado e incentivando do início ao fim.
O que vale aqui não são os resultados surpreendentes. Mas sim a maneira como esses três times atuaram.
Os Gunners entraram com uma formação inusitada para seus padrões ofensivistas, bem aos moldes do comandante Arsene Wenger. Apenas Adebayor na frente, com um meio recheado de volantes: Cesc Fábregas, Flamini, Clichy, Diaby e Eboué e Sagna abertos pelos lados do campo. Hleb marcava e armava as jogadas, e Adebayor parecia “isolado” no começo do jogo. O que se viu foi uma aula de marcação e saídas em velocidade. Flamini e Fábregas não são nem volantes, nem meias, nem atacantes. São duas “ventoinhas”, dois catalisadores do time. Tudo passa por eles, eles estão em todas as partes do campo, ora preenchendo espaços, ora fazendo tabelas e quase sempre confundindo o esquema tático adversário. Aliás, qual é o esquema dos Gunners? 3-4-2-1? 4-2-3-1? Depende de que minuto do jogo estamos falando!
Flamini: Porque ter posição é para os fracos.

Enquanto o Milan colocava o jogo inteiro nas costas e nos pés de Kaká e Pato, Flamini anulava Pirlo e Clichy marcava Ambrosini, ou seja, a bola simplesmente não passava da intermediária pro ataque! Era um festival de balões para Pippo Inzaghi (e depois Gilardino) que invariavelmente eram cortados por Gallas e Senderos.
Fábregas fez um golaço de fora da área e no final do segundo tempo Walcott desmontou o que havia sobrado do esquema defensivo Rossoneiro: Deixou Kaladze no chão e serviu Adebayor. 0x2 saiu barato, pois o massacre tático foi tamanho que Ancelotti deve estar tentando entender até agora.
No Inter há sete jogadores que fazem funções escondidas no campo e no esquema tático: Wellington Monteiro é lateral-direito no papel, mas em campo além de fechar e subir pelo corredor, preenche o meio como volante, meia, e em caso de subida de Marcão pela esquerda vira terceiro zagueiro. O mesmo acontece com o próprio Marcão: zagueiro pela esquerda, lateral-esquerdo ou volante. Já no meio cada um é uma multidão! Magrão, Alex e Guiñazu não guardam posição, alternando arrancadas, infiltrações pelos lados do campo e na área de um jeito que confunde qualquer marcação. Lógico que Alex é o “meia armador”, mas a movimentação é muito mais complexa. Guiñazu é o nosso Flamini, só que com uns quatro pulmões a mais e com cara de quem precisa correr de Porto Alegre até Córdoba pra ajudar num salvamento de pessoas que se acidentaram num desastre aéreo!!! El Cholo é um jogador como há tempos não aparecia no futebol, marcador implacável, incansável, dá o sangue pelo time, corre por dois, três jogadores, canhoto de bom passe e que de tantas qualidades, fica até meio acanhado em chutar a gol... Seria muita coisa pra um cara só! Enfim, uma análise mais profunda do GuinaRED em breve por aqui...
Pra terminar, Orozco é líbero, mas completa o meio ou os lados da zaga conforme o time avança ou recua, e Fernandão é o dínamo, o elo entre o meio e o ataque, quem dita o ritmo da equipe. Foi assim que Abelão derrotou São Paulo, Barcelona, Pachuca, Stuttgart e Internazionale. Muita aplicação tática, marcação implacável por zona e troca de posições nos contra-ataques. E a raça alvirubra!
Agora o jogo que comprovou a teoria que o futebol zaga-meio-ataque faleceu. Roma e Real protagonizaram uma partida vertiginosa, esquizofrênica, maratonística até! Impossível dois times jogarem o tempo todo procurando o gol, buscando a vitória sem cansar, sem se perder nas mudanças táticas, sem perder o fôlego. Mas aconteceu. O Real precisando da vitória entrou com Júlio Baptista, Robinho e Raúl no ataque. O Roma parecia retrancado, a princípio só Mancini e Totti na frente, com Taddei e Cicinho chegando pela direita e Perrota pela esquerda. “Mas como, dois volantes, dois “laterais-direitos” (Mancini é atacante aberto pela esquerda faz anos, mas no Brasil acham que ele é lateral ainda!) e um meia firuleiro? Que retranca, o Real vai patrolar né?”

Hleb: Bielorusso, feio e sem carisma ou marketing. Um Rivaldo moderno.

Tirando o Gago, baita volante, e o Michel Salgado, baita pereba, ninguém marcava pelas bandas Merengues! Guti “flutuava”, mas não cumpria nenhuma função de maneira contundente. Diarra perdido e Heinze preso, já que Taddei e Cicinho passavam voando pelo lado do campo. Aliás, se Schuster tivesse colocado Robinho nas costas de Cicinho o jogo seria outro, mas como o PVC não comenta os jogos pra ESPN espanhola, paciência...
O “pentágono” ofensivo do Roma em pleno Bernabéu com uma vantagem de apenas um gol não só foi ousado como anulou qualquer possibilidade do Madrid furar o bloqueio da zaga adversária. Quando Alberto Aquilani (melhor em campo, volante no mesmo nível de Fábregas, Guiñazu) tomava a bola do meio espanhol, Taddei e Perrota abriam, Cicinho dava opção por trás dos meias Madrilenhos, Mancini levava Salgado para uma zona morta do campo e Totti esperava a bola de costas, para além de puxar a marcação, abrir o espaço para o próprio Aquilani infiltrar!!! Gago e Guti não acompanhavam a movimentação, Diarra sobrava sem saber quem marcar e a zaga do Madrid se virava como dava (Pepe foi expulso em função disso).
Perrotta cruzou da esquerda e Taddei fez de cabeça, aparecendo pela direita no segundo pau (dois vértices do pentágono, não volantes!). Raúl empatou impedido para o Madrid, meio no abafa, dois minutos depois. Aí o Roma trocou Perrotta, machucado e exaurido por Vucinic, centroavante nato, mas que entrou aberto pela esquerda, assim como Mancini! Resultado: cruzamento da direita, mais uma cabeçada, 1x2! Espanto geral, não pelo resultado, mas pelo jogo em si. Não parou um minuto, com descidas fulminantes do Roma e com uma entrega difícil de ver pelos lados do Real. E mais uma vez o time dos “volantes” engole o time do “ataque”! E um time que com 1x1, classificando-se na casa do adversário, aos 44 minutos está com QUATRO jogadores no ataque seria no mínimo inconseqüente. Mas esse Roma é diferente, podem anotar.
O futebol morre nas mãos dos “ofensivistas” e renasce pelos pés e esquemas táticos dos adeptos do “futebol total”. Afinal, a Holanda de 74 não podia estar errada!

Taddei: "Nas Europa é bonito ser feio!" - Batoré.

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Ontem passei o que sobrou da minha tarde ouvindo PVC e Cia cometarem as "zebras" (como muitos consideram os resultados dos jogos que vc citou) que aconteceram na Champions League. Não sou assim tão entendida de futebol, mas gosto o suficiente pra entender tudo que vc escreveu! e vi o jogo do roma (não todo), e realmente foi um jogasssssoooo de bola!

11:47 AM  
Blogger Mau Haas said...

é bicho... que direi de uma análise tão profunda?
é que na verdade, esses times, os que ganharam, claro, jogam no meu 4-3-3.... heheheh...

não, sério agora, o Guiñazu só falta descobrir que tá no time errado, que na real o clube que tem a cara dele veste o uniforme da cor do no do próprio. Azul. Combinado com branco e preto.

Tá, sério. Análise fudida. Pena que não posso mais ver esses jogos. Queria ter visto todos. Ainda teria o do Fenerbace, que dizem, matou a pau. E o Barcelona, com Ronaldinho jogando bem. Tenho que dar um jetito de ver o repeteco.

Falo Chê!!!

7:09 PM  

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