Wednesday, June 21, 2006

Peter Griffin comanda!




Esqueça qualquer coisa em termos de ignorância que tenhas visto nos últimos 10 anos. Family Guy supera todas elas com uma margem incrível de folga.
Sabe aquela metranca giratória que o Schwarza usa no Terminator 2? É mais ou menos naquela velocidade que as piadas são arremessadas na lata do telespectador quando assiste esse desenho inacreditavelmente inspirado e doidaço.
Correndo com fôlego de iniciante (a série está na 5ª temporada após cancelamento de um ano) na trilha aberta pelos Simpsons no começo dos anos 90 e que South Park parecia ter devastado e esgotado cometendo piadas tão politicamente incorretas que o termo já se tornou desgastado quando falamos de Stan e sua gangue, Family Guy (Uma Família da Pesada no Brasil) extrapola qualquer expectativa de destruição do senso comum no humor.
O desenho animado aqui em questão não possui o verniz político que Os Simpsons encarnam com muita excelência por sinal, nem o tom underground e propositalmente tosco de South Park. Porém a qualidade imposta pelo criador/desenhista/dublador/produtor/DONO Seth MacFarlane (não, não é parente do Todd “Spawn” Macfarlane) é marcante e trabalha a favor do nonsense sem ser um aspecto da piada, funcionando na verdade como um alento para que quem está assistindo não sofra nenhuma lesão cerebral, até porque a velocidade e a cavalice das piadas podem ser prejudiciais aos não iniciados na arte dos desenhos animados de temática “adulta”, por assim dizer.
A velocidade com que as referências à cultura pop são despejadas na tela requer atenção total para que possam ser totalmente absorvidas, e algumas simplesmente se perdem na baderna que se instaura no desenho em certos momentos. E é aí que está outro trunfo de Seth e da família Griffin: as piadas em flashback ou com um timing bem mais lento que o normal. Enquanto a cena transcorre na casa dos Griffin, por exemplo, algum personagem faz referência a algo que aconteceu com ele momentos ou anos antes, e a situação é exibida do nada e termina mais abruptamente ainda! Enquanto que as piadas com o timing lento são meio complicadas de explicar. Mas vamos lá.
Imagine um cachorro falante tomando um Martini Seco e com ar de intelectual (Brian) tentando explicar para Peter Griffin (o patriarca) que ele está gordo. Então o cão coloca objetos ao redor da cintura de Peter e eles ficam girando em torno da gigante pança do mesmo, comprovando que ele não está apenas gordo, e sim que possui uma ÓRBITA ao redor de si mesmo! A cena transcorre durante uns 30 segundos e o silêncio e a bizarrice da situação vão provocando uma sensação incontrolável para o espectador.
Os alvos preferidos de Stewie (um bebê de 1 ano de idade que quer dominar o mundo e possui um humor britânico destruidor e um certo instinto assassino), Peter (uma espécie de Homer Simpson com mais milhagens na frente da televisão ainda), Brian (o cachorro alcoólatra e intelectual), Chris (o típico pré-adolescente retardado mental), Meg (a adolescente que não sabe muito bem como foi parar nessa família) e Lois (a mãe desesperada e que tenta ser o ponto de equilíbrio) são as celebridades em geral (atores, músicos, políticos, etc.), o estilo de vida americano, o racismo, a obesidade, a televisão e as religiões, especialmente o Cristianismo e a Igreja Católica. Logicamente todos são achincalhados até dizer chega. E mais qualquer assunto polêmico que surgir na cabeça dos roteiristas. Ninguém é poupado, as piadas quase sempre são bastante ofensivas mesmo que não aparentem ser, em função da leveza e da qualidade do traço do desenhista, como eu acho que disse anteriormente.
Aliás, a única explicação para que Family Guy não seja destruído pelos puritanos de plantão (embora alguns já se manifestaram nos primeiros anos do seriado) é que a esmagadora maioria das pessoas não entende e/ou não consegue acompanhar todas os deboches de Peter e família.
Ainda bem.

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