Friday, March 30, 2007

Talento Neutro

Ser esperto é uma arte. Muitos a confundem com levar vantagem, passar a perna nos outros, enfim, trapacear com o simples intuito de se dar bem. Muitos até que tem certa razão, mas não é só isso, como toda arte nunca é “só isso”.
Obrigado Por Fumar (Thank You For Smoking, de Jason Reitman - 2006) é o que podemos chamar de filme esperto (ou cinema inteligente, mas aí não teria o mesmo charme e seria um filme xarope). A direção, o roteiro, e principalmente os atores não se deixam levar pelos clichês morais e de qualquer sorte (da profissão e da vida) em quase nenhum momento da projeção, a não ser nas passagens onde o clichê é empregado em tom de deboche, tal como o ator que domina a arte de ser canastrão ou o diretor que conhece o enquadramento ideal para emocionar, e o usa numa cena de tiroteio.
E quando parece que a “indústria de Hollywood” vai soterrar tudo no lixão do esquema, Aaron Eckhart dá uma aula de interpretação. Como que alguém consegue interpretar um cara de pau cínico e sarcástico com aquela cara de paisagem é um mistério completo. Vai ver ele olhou seus próprios filmes, copiou a cara de nada que ele fazia e adicionou o personagem desse filme. Ou ele resolveu atuar mesmo.
O mote não tem como ser mais ambíguo: o cara para quem devemos (e queremos!) torcer que acabe com um “final feliz” (afinal é uma comédia. De humor negro, mas comédia) é o maior lobista da Indústria do Tabaco americana! Ou seja, um dos “desgraçados engravatados que querem corromper nossa juventude com drogas legais”!

"And the Oscar (doesn't) goes to..."

O filme além de apoiar-se no talento até então escondido de Aaron, levanta questões banais que fazemos de tudo para ignorar em nosso cotidiano cheio de tarefas e programações: Alguém realmente faz os trabalhos sujos que ninguém quer fazer? E se fazem, devemos odiar estas pessoas por isso? E pior, se elas são boas no que fazem, estão elas erradas? E mais, ser preconceituoso nesses casos é aceitável e normal?
Enfim, basicamente o filme é bala porque foi feito de uma maneira naturalmente inteligente, sem forçar nenhuma espécie de malandragem ou coisa que o valha. E isso nesses tempos bicudos já é uma coisa pra lá de valiosa.

“Moral” da história – Cigarros matam, mas a burrice é bem pior;

“Moral” da história II – Advogados podem ser considerados seres humanos também! Mas nunca aceite transfusões, órgãos ou conselhos desses sanguessugas!

Tuesday, March 27, 2007

A surpreendente memória

Há muito a música não surpreende mais ninguém. Ouvir algo que te faça dizer “de onde raios saiu isso?” ficará cada vez mais raro, isso é fato. Mas isso não quer dizer que ela perdeu sua capacidade de emocionar, de trazer memórias ou sensações já esquecidas.
Uns anos atrás fui num show da banda Stereoplasticos em Porto Alegre. Não me surpreendi com o som, nem me chamou muita atenção no momento, mas a impressão que tive era de que talento sobrava naquela banda.
Pois bem, dia desses esbarrei com o Myspace deles, que estão com novos membros e com um nome cada vez mais consolidado no meio indie-underground.
E aí ouvi a música Lonas Bicolores.
É uma canção pop beirando a perfeição, com aquela sonoridade típica das bandas (realmente) alternativas americanas do início dos anos 90. Que pegavam emprestado esse tipo de som das bandas inglesas um pouco mais antigas, etc. Na real todo mundo vai achar parecido com Los Hermanos, fazer o que... Só que há na música uma melancolia difícil de explicar. Remete a memórias individuais através de timbres que estão no inconsciente coletivo! Estranho...
Do início com um efeito sonoro que lembra um “retorno no tempo”, da frase de guitarra que conduz a melodia através do campo das memórias, até na letra bucólica e na marcação insistente da bateria, a música é um convite para lembrar do que tu quiser lembrar. Eu lembrei de Porto Alegre e dias que nunca aconteceram realmente. Acho que isso é mais do que suficiente para batizá-la como grande canção. Um pedaço de pop perfeito que precisa ser ouvido.

Friday, March 16, 2007

Como uma Canção

Era uma vez o fim do mundo.
O final mesmo, estava tudo acabando sem mais nem menos. Nem adianta imaginar corpos despencando do céu, fendas do tamanho da Islândia no solo, fogueiras de oitocentos metros, enchentes colossais ou lasers. O que houve foi que o céu começou a mudar, e lá pelas 09h32min (que é um horário bem xarope, todos sabem) as pessoas sentiram uma dor no lado direito do corpo. E depois disso, era óbvio que o mundo ia acabar.
A maioria das pessoas se prostrava nas ruas, avenidas, locais públicos e nos bairros, na frente de suas casas, nas penitenciárias, no meio das florestas e em todos os lugares possíveis e simplesmente ficavam ali, como se fosse o “dia interplanetário de fazer porra nenhuma e esperar o universo finalmente entrar em colapso”.
Ninguém pensava em religiões nesse momento (curiosamente, pensariam alguns se ainda estivessem controlando seus cérebros da maneira precária que fazíamos até minutos atrás), pois todos notaram automaticamente, após o céu mudar, que o nosso medo de estarmos sozinhos nessa vida e de criarmos coisas “maiores que nós” sempre foi um engodo que nos encobriu a verdade mais singela possível: a unidade que teoricamente a humanidade deveria ter era a real “força maior que nós”. Nossa existência, por ser algo tão casual e sem explicação (e agora todos sabiam que não há explicação ou motivo) é que era “sagrada”.
Além dessa e de outras revelações que já sabíamos, mas não deixávamos nossa mente acreditar, outros três sentimentos tomavam as pessoas de assalto. Uma melancolia profunda, descrita por um vizinho meu como “sentir a memória da Terra, desde os primórdios de suas batalhas e desentendimentos”. Ele dizia isso olhando para sua família com uma cara de espanto, como se aquelas palavras não fossem dele realmente, mas que apenas estavam usando seu sistema comunicativo para expressar uma opinião massiva.
O outro sentimento era resignação. Não havia um corajoso, ou metido a herói que tentava articular alguma idéia pró “Salvamento da Humanidade”. Uma voz inaudível repetia incessantemente que nada seria útil agora, e que deveríamos reclinar as nossas poltronas confortáveis e curtir o passeio.
E após sentir isso, a única palavra que pode definir a sensação seguinte é LIVRE. Não havia mais nada para pensar, planejar, falar, comprar, gastar, arrumar, consertar ou guardar. Os verbos estavam desempregados, todos juntos naquele instante. Foi como ouvir a Kate Winslet sussurrando “agora acabou, relaxe de uma vez por todas e nunca mais se preocupe com bobagens” num domingo de outono, às 10h30min da manhã logo após acordar e perceber que o dia está meio nublado e quase frio, e subitamente pensar que deveria estar no trabalho, mas aí ouve a o sotaque desconcertante da Kate e entende que é domingo e não há nada para fazer.
Pessoas sorriam com lágrimas nos olhos, outros apenas contemplavam aquele céu laranja-esverdeado (não tem como descrever, mas eu tentei) que de tão lindo provocava certa culpa em nossos olhos.
E meu último pensamento foi para ela, que como sempre estava muito longe de onde eu estava para saber disso. Mas a distância agora não existe mais, para ninguém, em lugar algum do espaço.

Wednesday, March 14, 2007

Repasso

- Qual o nome da doença que as pessoas não conseguem parar de tentar mostrar coisas que gostam e acham interessantes para os outros, mesmo sabendo que ninguém se importa realmente? Mão na orelha, só vale apertar o botão depois que eu disser valendo... Mão na orelha, mão na orelha... VALENDO!
- PIPIPIPIPI...
- Escola Marista apertou primeiro. Qual é a resposta?
- IDIOTICE Celso!
- Não... É a PERDA DE TEMPO CRÔNICA, errou... Então, TORTA NELE!

Após esse exemplo verídico ocorrido no Passa ou Repassa de agosto de 98 (podem procurar, incautos e pessoas de pouca fé!) vamos ao que interessa. Ou não.


The Zutons – Valerie

http://www.youtube.com/watch?v=MkYtU8i1TPk

http://www.myspace.com/thezutons


Essa foi A música de 2006. Se alguém (eu?) te disse que foi outra, esqueça. Se tu escolheu outra, esqueça também. Aposto um engradado de Minuano Limão (garrafa pequena, porque os tempos tão complicados e o mercado chinês tá batendo biela...) que ninguém consegue ficar indiferente a esta música.
É simplesmente OBRIGATÓRIO cantar o refrão, tu é impelido a cantar junto e ser feliz por três minutos, com o bônus de felicidade de passar o resto do dia assoBiando a melodia.
Aliás, coisa fina essa gurizadinha medonha lá das ilhas, falaremos mais dos Zutons em breve, assim que os discos deles chegarem por aqui e a Multisom ficar com eles encalhados porque ninguém conhece os caras e vender por R$ 9,99, junto com os do Nei Lisboa e do Raça Negra.
“Porque tu não chega mais Valéria?”

Agora, só antes de sumir, um achado!


America, feat. Ryan Adams and Ben Kweller

Essa é pra vocês que tem ataques histéricos quando algum MONSTRO SAGRADO da MPB (músicos picaretas do brazil?) sai do limbo e concede a nós, reles mortais que somos uma entrevista no JÔ!
O America (banda que os pais de vocês conhecem e tem vinis em casa, é só procurar!) voltou da Estrada Ventura (não basta ser sem graça, é preciso treino!) só para humilhar quem tenta de todo jeito fazer música para as rádios nos dias de hoje, e mesmo tentando não consegue!
Pois bem, não contente em mostrar pra juventude malhação como é que se faz MÚSICA com todas as letrinhas maiúsculas, os caras ainda tem a moral de chamar o Ryan Adams e o Ben Kweller pra dar uma canja no programa do Letterman (Jô?). É uma alegria tremenda ser brasileiro, realmente!

Celso Portiolli Faz a Festa Vol. MLXXXXVIII, é da Paradoxx!

Monday, March 12, 2007

Family Business

É com grande alegria que informo uma nova colaboração cá neste naco internético raramente visitado por forasteiros de qualquer sorte. O amigo de algum tempo (e de fé) Maurí... Digo, Mau Haas, sensibilizado com a ruindade do material aqui escrito, resolveu mandar suas refelxões acerca do que ele estiver com vontade de refletir acerca.
Sem mais xaropices, lá vai. Valeu chê!


Que Era estranha esta! Não consigo gostar de uma banda por mais de uma semana. Na segunda-feira seguinte já não encontro mais a banda que descobri na semana anterior. Esperar angustiado o novo álbum dos caras... Bah, quanto tempo faz que não sinto isso, não escuto isso, nem sequer acho alguém pra partilhar isso...

Mas, e alguém já escrevia que sempre existe um “mas”, existe Kings of Leon. Não sei como, mas estes caras escaparam desta Era pós-2000, internet, NME, youtube. Não escaparam no sentido de fazer parte, estar lá. Escaparam porque não são uma banda de youtube ou a melhor da última semana. Tudo isso é muito bom, mas tudo isso termina com a esperança, a expectativa, a angústia... Sentimentos nostálgicos nesta Era incrivelmente boa e de merda ao mesmo tempo, se é que me faço entender.

Agora o KOL lançou seu terceiro álbum – Because of the times – (eles ainda fazem álbum, vendem em lojas etc!!!). Passaram do segundo, o que já é muito (nesta Era), e eu já posso sonhar e esperar o quarto! Tu já imaginou? Quatro caras juntos (oficialmente) desde 2002, lançando seu quarto álbum? Difícil, mas eles podem!

Podem porque o terceiro é uma obra. Não é como primeiro, não é como o segundo, é o terceiro. Tem mais baixo, Caleb aprendeu a cantar afinadamente (em compensação, dá uns gritos em Charmer que assustam), o que (a afinação) tira um pouco originalidade da banda, mas soma qualidade. Até ao vivo eles estão melhores!

Mas, (ó, outro), as linhas de bumbo me fazem sentir o coração nas entranhas. Será mais uma banda dos anos “2080”? Até agora não. Quase que foram no Aha... (até o nome rumava pra isso). Espero angustiadamente o quarto álbum para confirmar, que não!

Mau Haas.


Ps: Se tu ouvir Black Thumbnail e não sair pulando pela casa, cantando, dançando, tocando airguitar, airdrums, tu só pode ser louco!

Ps2: O disco será lançado dia 03 de abril e o produtor é Ethan Johns, o mesmo dos dois primeiros discos dos caras e de “gente mais ou menos” como Rufus Wainwright, Ben Kweller e um dos preferidos da casa, Ryan Adams.

Thursday, March 08, 2007

Antecipando a jogada


David Fincher está prestes a desembarcar nos cinemas de nossa terra verde (diarréia?) e amarela (hepatite?) com seu novo filme, ZODIAC, (que em Portugal deve chamar-se O ASSASSINO DO HORÓSCOPO!) depois de um hiato cinematográfico de 5 anos - o último filme do cara foi o claustrofóbico O Quarto do Pânico. A data de estréia por aqui é 20 de abril.
Elencar motivos especiais para uma pessoa sair de casa e ter a oportunidade e o privilégio de assistir um mestre do calibre de David Fincher trabalhando chega ser patético, porém aqui vão alguns:
Trama que te deixa curioso e intrigado só de ler aquelas sinopses palhas que só os estúdios sabem fazer; Jake Gyllenhaal, Robert Downey Jr., Mark Ruffalo, Brian Cox, Chloe Sevigny... Agora imagina esse povo todo sendo DIRIGIDO de verdade!; O cara que criou SE7EN (aquele filmaço que as pessoas adoram pelos motivos errados) ficou CINCO ANOS sem lançar nada, só trabalhando nesse projeto. Sem mais.

"Avisa o Jon Favreau que a armadura do Homem de Ferro ficou meio apertada..."


Bom, não gosto de antecipar nada pra não parecer profeta (gênio?) e tal, mas o Coffee aposta em Zodiac como o melhor filme de 2007. A não ser que o Marty ou o Cameron resolvam lançar alguma coisa. Aí teremos que analisar melhor os fatos...