Truques
Stand-up Comedy é moda no Brasil agora né? Então tá:
Sabe o que me irrita nos filmes? Quando alguém precisa mostrar que um personagem é inteligente! Não precisa nem ser um personagem secundário, pode ser o principal mesmo. Ele está viajando por um país desconhecido (isso é importante, um lugar onde a língua não seja a sua!) e chega num local hostil - pode ser desde uma festa onde seu maior inimigo está dançando com uma vagaba qualquer ou num evento de pessoas inteligentíssimas que subestimam seus conhecimentos e fazem piadinhas em tom de voz volume sala de espera de hospital, mas ele nota. Aí as pessoas disparam comentários terríveis sobre o nosso galã, falando pra algum capanga ou cúmplice como ele é nojento e asqueroso, ou como suas roupas são “chinfrins”, tudo em russo dito entre dentes... E então nosso excepcional herói responde que aqueles comentários não são necessários e que estudou na escola de São Petesburgo por dez anos, seus imbecis!
OOOOOHHHH é o som que a platéia emite! NOSSA, ele é muito foda, ninguém sabia que ele sabia o que eles não sabiam que ele já sabia desde o começo, mesmo sendo em um idioma totalmente diferente do dele! Impressionante, demais, agora o filme começou a ficar bom!
E a partir daí já dá pra saber todas as cenas, uma por uma...
Se esse recurso fosse aplicado em um filme nacional, seria mais ou menos assim:
Cena I
O galã – que é traficante, mas com um bom coração gente, cuida da comunidade! – chega numa sala enfumaçada onde brutamontes jogam pôquer. Ele está em Caracas (sabemos que é Caracas porque aparece escrito em letras Fonte 28 na tela, em vermelho sangue, e o locutor grita o nome da cidade) para negociar um carregamento de cocaína que está emperrado há semanas e pode desencadear uma guerra civil no Brasil. Ele já foi protagonista de duas novelas (na Manchete e na Gazeta) e fez figuração na Globo. Os venezuelanos tem cara de baianos e na sala tem um pôster do Hugo Chavéz, pra dar a “ambientação necessária”, segundo o diretor.
Galã da Silva (entra em silêncio com ar desafiador)
-...
Chefe de La Bueca de Fumito
- Má o que se passa a cá, rã? Quem é este maricón, madre de diós?
Vice-Chefe de La Bueca de Fumito
- Este és el brasileño folgadito que veio negociar lá mercadoria! Putón!
Chefe de La Bueca de Fumito (caminhando ao redor de nosso destemido Galã da Silva, com ar de deboche e cuspindo fumaça em seu rosto. O charuto tem que ser gigante e na outra mão deve haver uma bebida parecida com mijo quente, que ele oferece e nosso Galã faz que nem é com ele e continua irredutível e mudo)
- Hum... Entonces este és el hijo de una putana que quer nos passar la pierna? (Agora o Chefe deve rir, e dando tapinhas nas costas do Galã, deve falar como se estivesse o elogiando) E usted piensa que vai nos tapear com seu dinheirito fajuto e sua cara de porco yankee rã? Seu mierda de pollo! (titica de galinha na versão dublada) RÁRÁRÁRÁ! (todos os jogadores – agora já parecem mexicanos quando a câmera se aproxima e soltam gargalhadas histéricas)
Jogador 3
- E este cabrón é tão burrito que não entende nadita do que estamos hablando!
Galã da Silva
- Pois ustedes estón muito enganaditos! Yo compreendo todo que ustedes hablan, seus chanchos de uma figa! E se non me entregaram la coquita, vou explodir suyos miolitos com esta escopetita que tengo a cá!
Todos
- OH! (de joelhos com as mãos na nuca) Perdón señor brasileño, non sabíamos que o señor compreendia nuestra língua! Como és possíble?
Galã da Silva
-Caladitos! Mais um piozito e vão virar paçoquita! Ahora, levem-me hasta la coca antes que yo fique (pausa dramática, close fechadíssimo) MALUQUITO, SEUS HIJOS DE UNA PUTANA!
Fim da Cena I
(Nota do roteirista: O espanhol está muito complexo para platéia brasileira, deve ser facilitado)
Sabe o que me irrita nos filmes? Quando alguém precisa mostrar que um personagem é inteligente! Não precisa nem ser um personagem secundário, pode ser o principal mesmo. Ele está viajando por um país desconhecido (isso é importante, um lugar onde a língua não seja a sua!) e chega num local hostil - pode ser desde uma festa onde seu maior inimigo está dançando com uma vagaba qualquer ou num evento de pessoas inteligentíssimas que subestimam seus conhecimentos e fazem piadinhas em tom de voz volume sala de espera de hospital, mas ele nota. Aí as pessoas disparam comentários terríveis sobre o nosso galã, falando pra algum capanga ou cúmplice como ele é nojento e asqueroso, ou como suas roupas são “chinfrins”, tudo em russo dito entre dentes... E então nosso excepcional herói responde que aqueles comentários não são necessários e que estudou na escola de São Petesburgo por dez anos, seus imbecis!
OOOOOHHHH é o som que a platéia emite! NOSSA, ele é muito foda, ninguém sabia que ele sabia o que eles não sabiam que ele já sabia desde o começo, mesmo sendo em um idioma totalmente diferente do dele! Impressionante, demais, agora o filme começou a ficar bom!
E a partir daí já dá pra saber todas as cenas, uma por uma...
Se esse recurso fosse aplicado em um filme nacional, seria mais ou menos assim:
Cena I
O galã – que é traficante, mas com um bom coração gente, cuida da comunidade! – chega numa sala enfumaçada onde brutamontes jogam pôquer. Ele está em Caracas (sabemos que é Caracas porque aparece escrito em letras Fonte 28 na tela, em vermelho sangue, e o locutor grita o nome da cidade) para negociar um carregamento de cocaína que está emperrado há semanas e pode desencadear uma guerra civil no Brasil. Ele já foi protagonista de duas novelas (na Manchete e na Gazeta) e fez figuração na Globo. Os venezuelanos tem cara de baianos e na sala tem um pôster do Hugo Chavéz, pra dar a “ambientação necessária”, segundo o diretor.
Galã da Silva (entra em silêncio com ar desafiador)
-...
Chefe de La Bueca de Fumito
- Má o que se passa a cá, rã? Quem é este maricón, madre de diós?
Vice-Chefe de La Bueca de Fumito
- Este és el brasileño folgadito que veio negociar lá mercadoria! Putón!
Chefe de La Bueca de Fumito (caminhando ao redor de nosso destemido Galã da Silva, com ar de deboche e cuspindo fumaça em seu rosto. O charuto tem que ser gigante e na outra mão deve haver uma bebida parecida com mijo quente, que ele oferece e nosso Galã faz que nem é com ele e continua irredutível e mudo)
- Hum... Entonces este és el hijo de una putana que quer nos passar la pierna? (Agora o Chefe deve rir, e dando tapinhas nas costas do Galã, deve falar como se estivesse o elogiando) E usted piensa que vai nos tapear com seu dinheirito fajuto e sua cara de porco yankee rã? Seu mierda de pollo! (titica de galinha na versão dublada) RÁRÁRÁRÁ! (todos os jogadores – agora já parecem mexicanos quando a câmera se aproxima e soltam gargalhadas histéricas)
Jogador 3
- E este cabrón é tão burrito que não entende nadita do que estamos hablando!
Galã da Silva
- Pois ustedes estón muito enganaditos! Yo compreendo todo que ustedes hablan, seus chanchos de uma figa! E se non me entregaram la coquita, vou explodir suyos miolitos com esta escopetita que tengo a cá!
Todos
- OH! (de joelhos com as mãos na nuca) Perdón señor brasileño, non sabíamos que o señor compreendia nuestra língua! Como és possíble?
Galã da Silva
-Caladitos! Mais um piozito e vão virar paçoquita! Ahora, levem-me hasta la coca antes que yo fique (pausa dramática, close fechadíssimo) MALUQUITO, SEUS HIJOS DE UNA PUTANA!
Fim da Cena I
(Nota do roteirista: O espanhol está muito complexo para platéia brasileira, deve ser facilitado)